A internet chegou de mansinho: no início, era uma transposição do papel para a tela. Claro que aquilo não ia funcionar: quem iria perder tempo rolando centenas de páginas e cansando a vista com os textos enormes em letras miúdas? Diria você: “pouco prático, prefiro meu jornal, companheiro fiel, que carrego para onde quer que eu vá.”
Então, em uma velocidade muito maior do que se poderia esperar, arregaçou as mangas. Todo aquele conteúdo disperso começou a ser organizado, indexado, acessível a todo o mundo. E essas gente de todo o mundo passou a se comunicar, com uma rapidez que nenhum telegrama poderia superar. Primeiro por uma modalidade nova de correio: o eletrônico. Depois em tempo real, de computador para computador. A linguagem dessas mensagens foi adaptada: para conseguir “falar” de verdade, as frases tiveram que se encurtar. Para escrevê-las rápido, as palavras se contraíram. Para expressar tamanha emoção, ícones animados. E assim foi criada uma linguagem totalmente nova.
Os jornais também tiveram que se adaptar. Perceberam que a leitura de uma tela de computador seguia uma lógica distinta. Que a notícia precisava ser mais curta. E depois que precisava ser curta, mas com possibilidade de ser aprofundada. Essa foi a parte fácil. Difícil foi entender que a internet era muito maior que isso. Não queria só informar, queria interagir. Uma notícia não bastava. De um único lugar já não bastava. E seus usuários ficaram mal acostumados. Não queriam apenas ler. Queriam ouvir, queriam ver. Queriam, acima de tudo, participar.
Surgiu uma nova maneira de ver a notícia. Em tempo real: ninguém pode esperar o dia seguinte para saber o que acontece agora. Global: é possível saber, agora, o que dizem em qualquer canto do mundo. Multimídia: queremos ler, assistir e ouvir ao mesmo tempo. Interativa: já não é suficiente que te contem, é preciso discutir, ouvir, opinar, compartir.
É uma avalanche de desejos. Uma avalanche de informação. Mas os jornalistas ainda têm sua missão: ajudar a selecionar o que vale. E ajudar a pensar. Mas não se engane: o internauta vai comparar o que você diz com o que diz seu companheiro do Japão e, se não estiver de acordo, vai fazer seu próprio blog contra vocês dois. Ou fazer uma comunidade inteira (“I hate you”) no facebook. Ou monitorar seus passos e passar para milhares de seguidores no twitter. Você não é mais tão essencial e pode, sim, acabar desempregado.
Por isso, desça meu amigo, desse pedestal de jornalista-intelectual-saudosita-romântico. Trate de conhecer tudo isso que está atrás dessa tela de computador. É muito mais que um papel difícil de ler. É outro planeta, que está revolucionando não apenas o jornalismo, mas a forma que as pessoas têm de se relacionar, de ver e de compreender o mundo. Você, por mais apegado que seja, já não escreve mais cartas. E certamente não conseguiria desenvolver mais que três linhas em uma máquina de escrever. Seja sincero, os fumantes já te incomodam até mesmo nos bares. As coisas mudam, amigo. Evoluem. E até você, sem se dar conta, vai acabar se cansando da tinta preta das folhas dos jornais. Ah, e antes que eu me esqueça, quem foi que disse que você não pode levar seu papel digital pra onde quer que você vá?
Marina Loiola Bessa